segunda-feira, 13 de setembro de 2010

little girls lost and now found !!!


Ontem fui dormir com uma coisa muito importante na cabeça. As memórias de um livro que li aos 13 anos. O livro se chama: Little Girl Lost, Drew Barrymore. Para quem não sabe Drew é aquela menininha que nos emocionou no filme E.T. e assim se tornou em Hollywood uma celebridade com apenas 6 anos de idade . Eu morava em Los Angeles quando comprei esse livro. Eu sempre acompanhava a vida dela. Drew Barrymore sempre estava na mídia envolvida com problemas que se pareciam com os meus e portanto me tocavam . Assim tive vontade de ler a sua história ... Esse livro foi se tornando minha companhia diária. Em cada pagina me encontrava dentro da dor e solidão que essa menina vivia na época com apenas 14 anos. Parecia que ela estava falando comigo. Impressionante!!!
A única diferença em nossa história era que o problema dela era decorrente da sua fama e uso de drogas. Isso trouxe à ela um grande vazio. Mas a dor, a angustia, a solidão, a vontade de sumir, a carência de pais, o medo de ficar sozinha, tudo era igual ... Ela assim como eu, cresceu muito sozinha. Ela não recebia orientação do que era amor e na percepção dela ela não se sentia amada. Eu também não me sentia. Eu tinha uma tristeza nos olhos, depressão, não tinha vontade de viver como tenho hoje. Sentia - me uma garota perdida em Los Angeles .Ela tinha a fama e falta de seus pais, que a levou as drogas e ao abismo . Eu não tinha familiares lá, somente meus pais e irmãos. Mas tinha um enorme vazio por não ter meus pais presentes como eu queria. Eles estavam lá perto de mim mas o amor, a presença e qualidade de tempo, limites, orientação, carinho, isso eu não tinha . Meu pai estava muito doente e minha mãe sempre muito ocupada com tudo da casa.
Para quem não leu meus posts anteriores, meu pai estava envolvido com drogas e minha mãe era co dependente (A co-dependência pode ser definida como um transtorno emocional característico de familiares ou pessoas da convivência direta de dependentes químicos, de jogadores patológicos e portadores de transtornos de personalidade) do meu pai . Quando ele ficava em estado crítico ela cuidava dele, (É o famoso "CARROSSEL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: no centro, o dependente químico agindo e ao redor... os co-dependentes estão reagindo, todos estão vivendo em função do dependente) pois era a maneira dela saber lidar com isso e tentar nos preservar de ver certas coisas. Ao invés dela cuidar de nós ela cuidava de meu pai, com o agravamento do dependente, os filhos ficam órfão de pais vivos. E assim nós fomos criados sem limites, orientação, carinho, amor... Minha mãe fez o melhor que pode, mas meu pai a deixava desestabilizada emocionalmente e ela já estava doente e envolvida querendo salvar a vida dele (Todo aquele que está emocionalmente ligado e oferece seus sentimentos e sua vida para "proteger seu dependente", visando impedir que comportamentos anti-sociais tornem-se transparentes, é um co-dependente ). Nesse livro cada palavra que ela dizia, cada frase de dor que eu lia, cada palavra de desespero, era eu gritando por ajuda mas essa ajuda não vinha nunca. Não tinha familiares por perto e fui cada vez ficando mais deprimida , sozinha e foi quando desenvolvi assim como Drew, problemas alimentares que hoje estou curada! Este livro foi um pedacinho de mim e também de minha família .Ele era também de certa forma meu amigo. Com ele não me sentia tão sozinha e estranha no mundo devido à identificação.
A vida se torna incontrolável e como forma de defesa o co-dependente desenvolve seu próprio estilo de vida, modificando sobremaneira o seu modo de se relacionar consigo, com a pessoa problemática e com as demais pessoas de seu convívio familiar, social, e profissional. O problema da dependência química adoece toda a família e todos ao redor (a maioria dos familiares são atingidos pelo problema da dependência.) Sentimos os mesmos "fellings" então tanto o familiar quanto o dependente, no fundo sente a mesma dor! São dores e aflições iguais. O tratamento é bem parecido . Mesmos princípios dos 12 passos entre outras doutrinas e métodos. Mas a dor o medo, a raiva, a culpa, é igual. ( A doença é contagiante. Um familiar acaba adquirindo hábitos e comportamento de um dependente químico/adicto) Você começa a viver um dia de cada vez... Quando voltamos para o Brasil eu já não era mais tão nova e minha vida foi se ajustando . Hoje não tenho depressão nem me sinto perdida! Fui praticamente criada sozinha e consegui criar meu filho muito bem e isso para mim é meu maior orgulho. Depois de tudo que passei com minha família e ainda passo consegui dar a volta por cima e ser uma excelente mãe. O importante é que me mantive sã . Dei a mim e ao meu filho meus próprios limites.
Os co-dependentes precisam ter coragem de colocar limites, fazendo parar de girar o Carrossel e desligar-se emocional mente do dependente, sentindo seu próprios sentimentos e vivendo suas próprias vidas. Estou estudando e buscando uma carreira. Assim como Drew, nós duas little girls losts conseguimos! Ela com internação e se dedicando a seus filmes, fazendo deles sua família!Eu com minha análise,com Deus, com meu filho, com meus estudos, amigos, família que hoje tenho uma relação melhor do que a de Drew, pois isto ela infelizmente não pôde ter ... E agora o Blog e o projeto de escrever meu livro... Tornaram se minha família junto com meu filho. Essas coisas sou eu que estou realizando mas estou sendo preenchida de AMOR! Entendem o que quero dizer?!
Agora Drew com 36 anos diz : " quando estava na casa dos 20 anos, queria um conto de fadas” "Hoje na casa dos 30 , percebi que existe o dia seguinte."
Por isso não precisamos ser tão ansiosos.Só por hoje! A Drew assim como eu buscava loucamente por ser amada devido a historia dela com o pai. Hoje ela assim como eu sabemos que não existe conto de fadas e que sempre tem o amanha. E que podemos ser felizes sozinha .
A ironia é que não precisamos de ninguém para nos dar um conto de fadas, nós mesmas podemos nos dar... E podemos fornecer para quem quisermos por outras vias ...
Demos a volta por cima e você também pode!!!
Espero ter esclarecido ainda que superficialmente a questão de como a dependência química é um problema que afeta a todos os envolvidos, não somente o usuário, as conseqüências são nefastas, dolorosas, mas é possível sair do fundo do poço, pois quando queremos ajuda, aceitamos que estamos doentes, sempre haverá uma mão estendida em sua direção.
Um bom dia a todos, aguardem os próximos posts!
Beijos Isa





4 comentários:

  1. Muito bom o post! A comparação é interessante, fiquei até com vontade de ler esse livro da Drew B. Não sabia que os co-dependentes eram tratados do mesmo jeito que os dependentes e que os sentimentos eram parecidos. Que coisa curiosa...
    Bjos!

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  2. Pois eh amiga é isso mesmo!!! A pessoa co dependente sofre igual ou até mais do que a pessoa que usa a droga!!!
    E como tem tratamento para os dependentes quimicos tem para os co dependentes que adoeceram ao lado da pessoa! E acaba sentindo as mesmas dores, inseguranças etc.. Sao mt parecidos!!! Por isso existe o naranon para quem convive com familiares que usam drogas ou ja usaram. Explicarei para vc melhor depois e para todos!!! Beijosss obrigada pela força! bjaoo
    ah e sim o livro é maravilhoso!!!

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  3. Esse texto me tocou. passei por coisas parecidas também obrigada por seu lindo trabalho Isabella! beijo e paz em seu coração

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