Muitas vezes, ao fazer alguma coisa ou me preparar para
sair, me pego pensando:
E se não der certo?
E se eu for àquele
evento?
E se, quando chegar lá, as pessoas estiverem mais bem
vestidas do que eu?
E se eu sair só mais uma vez com aquele ex-namorado? E se eu
voltar para ele? E se eu não voltar?
E se estiver largando
alguém que poderia ser o grande amor da minha vida?
Tenho enorme dificuldade em tomar decisões. Medo de ser uma
decisão errada, e não mais poder mudar de ideia.
Quando se trata de decisões sérias e em relação a meu filho,
consigo resolver rapidamente. Mas, na maior parte das vezes, até as escolhas
mais bobas me deixam ansiosa.
“Vou ou não vou ao evento hoje à noite? Lá eu poderia
encontrar pessoas amigas, conhecer pessoas novas, seria importante para mim...”
Recentemente fiquei remoendo uma dúvida desse tipo o dia
todo, e acabei resolvendo não sair. Então fiquei em casa pensando:
“E se tivesse ido? Não seria bom? Perdi uma oportunidade de
fazer bons contatos de trabalho? Por que não fui ao evento? Que louca!”
Mas tenho certeza de que não sou louca de verdade, só penso
demais e sou um pouco neurótica – como quase todo mundo é...
Fico pensando também:
“E se eu comer isso? Será que vou engordar? Ai meu Deus, a
vida já é tão difícil para mim, agora terei que parar de comer também?!”
Algumas pessoas acham que sou bipolar, porque às vezes
decido uma coisa e mudo minha decisão. Digo que vou e, logo depois, digo que
não vou.
OK, sou ansiosa, neurótica, preocupada, penso muito antes de
fazer... Mas isso está longe de ser bipolaridade. Eu apenas tenho medos.
Acho engraçado quando comentam que sou bipolar. Se fosse,
seria até mais fácil, porque existe remédio para isso, mas não existe remédio
de farmácia para neuroses e confusões mentais.
Algumas vezes acordo com medo e triste. Outros dias, acordo
feliz e animada. Quando me sinto segura, fico bem. Quando me sinto sozinha,
volto ao meu passado e me desespero.
Sou craque em me punir e me arrasar. Por isso meu
psicanalista diz: “Isabella, você não precisa de inimigo. Você já é o seu maior
inimigo. Você se cobra muito, não precisa! Já faz muitas coisas para os outros
e para si. Não se exija tanto!”
É verdade. Eu me culpo e fico remoendo a dor. Acho que não
mudo essa atitude porque, no fundo, não quero. Gosto de ter uma personalidade
profunda, pensativa. Gosto dos sentimentos extremos, da alegria à tristeza.
Estou escrevendo isso agora, mas quando fico angustiada é o
fim: tenho vontade de sumir. E quando tudo passa, acho bom. Porque na angústia
é que surgem os meus melhores pensamentos, ideias e decisões. Angustiada,
consigo me conectar comigo mesmo.
E depois fico pensando: “Valeu a pena.” Então pego tudo o
que vivi durante a crise de angústia e transformo em material para meu blog e
meu livro. Além disso, ponho minhas ideias em prática. Desde as mais simples
até as mais importantes: ir finalmente ao banco, comprar aquele sapato, voltar
ou não voltar para meu namorado , trabalhar, ler um livro... Faço Pilates,
caminhadas, faculdade, estudo, leio, escrevo um novo trecho do meu livro,
organizo minha casa, ligo para meus familiares e amigos, digo que estou com
saudades e quero vê-los e saio escrevendo meus pensamentos neste blog.
Saio da bolha e
começo a produzir. Eu começo algo com muita empolgação, depois diminui. Sofro e,
após o sofrimento, vejo o que vale a pena e o que não vale. E volto a fazer com
prazer.
É assim que funciono e tenho que me aceitar como sou. Se
mudar o meu jeito de ser, não serei feliz de verdade. Vou tentar fazer o melhor
que posso, do jeito que eu sou e com o que tenho.
Talvez eu não seja “normal”. Mas acho que sou melhor do que
muitas pessoas que se dizem normais. A propósito: de perto, alguém é normal?
Escrevendo esse texto lembrei-me do Woody Allen, que sempre
escreve sobre todas as suas neuroses sem nenhum pudor, e depois as transforma
em filmes geniais.
Beijos, Isa.