domingo, 27 de janeiro de 2013

Superaçao


Mauro Ventura
Mauro Ventura escreve aos domingos na Revista O Globo

Duas Cocas Zero e a conta: com Isabella Lemos de Moraes

Ela enfrentou um inferno particular, que causou depressão, bulimia, anorexia e traumas os mais diversos


Isabella Lemos de Moraes: dependência do pai em crack causou nela problemas como bulimia, anorexia e depressão
Foto: Terceiro / mauro ventura
Isabella Lemos de Moraes: dependência do pai em crack causou nela problemas como bulimia, anorexia e depressão Terceiro / mauro ventura
RIO - Olhando de fora, Isabella Lemos de Moraes tinha uma vida de contos de fada. Bonita, de família rica e influente, vivia cercada de artistas e celebridades. Mas, sob essa aparência, ela enfrentava um inferno particular, que causou depressão, bulimia, anorexia e traumas os mais diversos, como se poderá ler no livro que tem título provisório de “Começar de novo” e que será lançado em abril pela Rocco, como antecipou a coluna de Ancelmo Gois no GLOBO. Na obra, ela fala sobre codependência. Ou seja, de como o vício do pai em crack afetou sua vida — e a de sua mãe e seus irmãos. “A família adoece junto”, diz ela, de 37 anos, que chegou a pesar 47 quilos — hoje, tem 52, em 1,69m.
Seu pai é João Flávio Lemos de Moraes, filho do fundador de um conglomerado de 25 empresas que incluía a Supergasbras. Eleito um dos homens mais elegantes do mundo, João tinha entre os amigos Sammy Davis Jr., Liza Minnelli, Julio Iglesias, Boni, Pitanguy e Roberto Carlos, que é padrinho de seu filho. O empresário está limpo há quatro anos e é entusiasta do livro. Isabella, que tem o blog <euefreud.blogspot.com.br>, diz: “Ele tem ótimo coração, é amoroso, carinhoso, não tinha noção do mal que nos causava. Hoje tem.” Ela quer dar palestras em ONGs e escolas sobre o tema e fazer um dos lançamentos no Morro do Alemão.
REVISTA O GLOBO: Como você descobriu que seu pai era viciado?
ISABELLA LEMOS DE MORAES: Quando ele começou a usar, eu tinha cerca de 5 anos. Mas só com 12 anos passei a perceber um comportamento estranho. Ele se isolava no quarto, sumia, viajava. Minha mãe ficava muito triste. Até que aos 14 achei droga em casa e meu pai confirmou ser dele. Foi um choque muito grande, era um herói para mim. O que me ajudou muito foi ler a autobiografia em que Drew Barrymore conta o vício em drogas e álcool. Embora eu não usasse, havia de igual o vazio, a tristeza, a solidão, o sentir-se um ET. Não conseguia conversar com os outros, iam achar que estava louca. Já aí pensava: “Se um dia conseguir superar essa história vou escrever um livro.” Comecei a escrever há um ano e meio, mas mesmo depois de tanto tempo foi muito difícil, porque mexeu com sentimentos que foram muito complicados para mim.
Como você se sentia?
A família se torna codependente e adoece. O dependente químico sofre menos porque está anestesiado. Quem está ao redor sofre muito mais, volta toda a atenção para ele e se paralisa. Tive bulimia e anorexia. Era uma maneira de chamar a atenção, dizer: “Estou aqui, cuidem de mim, olhem para mim.” Cada um dos quatro filhos adoeceu de um jeito (uma irmã também se tornou dependente). Era um pedido de socorro. Tive muita depressão. As pessoas achavam que era frescura: “Você não tem motivos para ficar triste, é linda, a família tem dinheiro, o pai é maravilhoso.” Não sabiam o pesadelo que era. Você fica muito carente, desestruturada, insegura, não sabe quem é, o que fazer. Fui modelo da Elite, promoter, larguei Direito no último ano, cursei dois anos de Moda. Mas agora me defini profissionalmente. Curso o sexto período de Jornalismo, quero fazer pós em Psicanálise, ser escritora e ter coluna de comportamento em revista ou jornal. Estou escrevendo meu segundo livro, um romance, baseado em coisas que vivi.
Você tem um filho de 17 anos. Como você é como mãe?
Casei cedo, acho que foi uma fuga para sair de casa. Tive filho aos 20 anos. Fui tão acostumada a cuidar que inconscientemente quis um filho para ter minha família “normal”, dar a ele tudo que não tive, fazer tudo ao contrário do que fizeram, impor os limites que não recebi. Batizei meu filho com o nome do meu pai, achando que isso iria mexer com ele e ele iria melhorar. É ilusão, mas você fica obsessivo em curar.
O que você acha da internação compulsória de viciados em crack?
Sou a favor num momento isolado, emergencial, quando a pessoa está tendo overdose, surtando, em risco de vida para si ou para os outros. Mas não a favor de clínica onde a pessoa passa seis meses, um ano isolada. Meu pai foi internado mais de 15 vezes, e cada vez saía pior, mais revoltado. Achava que era um ato de violência que estavam comentendo contra ele. Só parou quando quis. Os filhos tinham saído de casa, minha mãe havia se separado após 25 anos casada, ele perdeu espaço nos negócios. Ficou sozinho e percebeu: “O que estou fazendo da minha vida?” Minha mãe deveria ter se separado há mais tempo. Isso poderia ter ajudado, mas ele não teve esse baque. O crack não o destruiu, mas fez danos gravíssimos a ele e à família. Felizmente ele conseguiu dar a volta por cima.
Como seu pai descobriu o crack?
A sociedade acha que o crack só é usado por pobre, por gente da rua. No Brasil, meu pai usava cocaína. Mas fomos morar nos Estados Unidos. Lá ele passou a usar, em Beverly Hills, no high society americano, há mais de 20 anos. Mas a família esconder a dependência em crack, prefere falar que o parente está viciado em cocaína. Fui visitar há pouco uma clínica e tinha várias pessoas de sobrenome internadas por causa do crack.
É verdade que você foi chamada para fazer “Mulheres ricas”?
Sim, mas recusei. Não tem nada a ver comigo. Falei na emissora: “Adoraria participar, mas o que eu vou fazer aqui? O que eu vou falar? Vou ter que ser um personagem.” Meu dia é ir à faculdade, à academia, cuidar do filho. Não tenho motorista, não tenho carro blindado. Fomos criados com tudo do bom e do melhor, mas somos simples, nunca fomos de ostentar. Meu avô dizia: “Quem tem fica quieto.”

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ece_incoming/duas-cocas-zero-a-conta-com-isabella-lemos-de-moraes-7405915#ixzz2JBJgWrPK

4 comentários:

  1. .


    Eu conheço a sua história
    e na mesma ocasião sofri as
    minhas próprias amarguras,
    já que tive na família alguém
    que se deixou tomar pelo vício
    e com ele se fez doente. Hoje,
    felizmente para todos, a saú-
    úde e a paz nos recebeu de vol-
    ta.

    Um grande abraço,

    silvioafonso






    .

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  2. Li sua entrevista no O Globo e por este motivo estou comentando aqui. Que bom que você dividiu a sua estória conosco!!!

    bjs

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  3. Oi Isabella. Meu nome é Andre. Também li na revista de domingo do globo. O que voçê falou é exatamente igual ao que sinto, mas aqui em casa o problema sou eu!

    Vou ler seu livro sim, claro! e espero conseguir a coragem que voçê teve de botar isso pra fora e tocar a vida.

    É isso!

    Boa sorte!

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  4. Obrigada a todos vocês! Fico feliz em poder ajuda los!
    Contem comigo. Qualquer dúvida estou aqui para tentar ajuda los.
    Beijo, Isabella

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